quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

PARTE II: OS PRIMEIROS INSTRUMENTOS



Santuza: Você tocava outro instrumento antes do violão?

Edu: Eu tocava acordeon.

Santuza: Com quantos anos você começou?

Edu: Olha, dos oito aos dezesseis, eu estudei oito anos.

Santuza: E por que o acordeon?

Edu: Não foi escolha minha. Eu queria tocar piano, mas eu não sei, acho que o acordeon era o instrumento da moda na época. E, naquela época, ninguém da minha geração decidia nada, você fazia o que eles te mandavam, era assim. Mas não foi meu instrumento de escolha de jeito nenhum, foi um certo sacrifício e eu não me lembro de ter alegria de ter estudado acordeon não. Era um instrumento meio incômodo. Eu tinha uma certa dificuldade com a mão esquerda, eu não gostava do som. Não gosto até hoje daqueles baixos do acordeon, daqueles botõezinhos. Agora lembro que eu tinha dificuldade com a coisa teórica, de leitura, por exemplo, porque eu achava muito desinteressante a leitura. Acho que eu já tinha um ouvido muito bom, porque eu pedia sempre para alguém tocar um pouco antes e aí decorava e facilitava uma suposta leitura. Tanto é que, quando eu resolvi estudar música para valer, eu não sabia ler, quer dizer, então aquilo ali foi meio perdido, dessa parte teórica eu não achava graça nenhuma. E tem vários craques desse instrumento, desde o Chiquinho do acordeon, o Dominguinhos, o Sivuca... Mas o meu estudo do acordeon era o tradicional mesmo, com a mão esquerda. E tocava Grieg, Concerto em lá menor . Agora, não foi tempo jogado fora, porque me deu uma mão direita que serve para o piano até hoje. Então por isso, pelo menos, valeu.

Santuza: E você ouvia muita música tocada por acordeon naquela época?

Edu: Bom, eu estudava numa escola do George Brass que, no final do ano, tinha uma festa que terminava com 120 acordeonistas tocando a mesma música, uma espécie de pesadelo, 120 acordeões, em uníssono (risos)

Santuza: O que você ouvia, além dessas músicas que você conhecia desde menino em Recife e dos concertos de acordeon? O que mais te interessava, dentre as músicas que tocam no rádio, quando você era menino e quando adolescente? Porque naquela época se ouvia muito rádio.

Edu: É, muito rádio. Agora estou lembrando de uma vitrola. É assim que se chamava na época. Zenith, uma vitrola que tinha um braço vermelho com o formato de uma cobra. Lembro dos álbuns, que se chamavam assim porque eram álbums mesmo, com vários discos dentro, diferente do LP, porque cada disco só tinha uma faixa de cada lado.. Mas era assim: álbum do Frank Sinatra, que tinha 12 músicas, em 6 discos. E era pesado aquilo. Eu lembro muito de ouvir Frank Sinatra, que tinha muito na minha casa. As músicas do Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, os compositores americanos da época. E brasileiros, muito: Aracy de Almeida cantando Noel, as canções do Caymmi, as canções do Herivelto Martins, do Lupicínio [Rodrigues], as cantoras todas, a Nora Ney. Eu vou esquecer uma porção de gente... Quem mais? As músicas do Ary [Barroso]. E eu ouvia bastante, a minha mãe ouvia. Porque tem essa história: meus pais se separaram muito cedo e depois recasaram quando eu tinha 19 anos de idade. Nesse período de tempo, não houve uma participação dele na minha vida, na minha formação musical, nenhuma.