quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

PARTE IV: OS INVENTORES

Edu: Voltando ao Stravinsky, que dizia que todos temos um dever em relação à musica: o de inventá-la. E conta que, durante a guerra, ao chegar na fronteira francesa, um guarda lhe perguntou qual era a sua profissão. E êle respondeu: "sou inventor de música". Diante do espanto do guarda que, examinando o passaporte só encontrou a palavra compositor, ele acrescentou: "o têrmo inventor de música me parece traduzir com mais exatidão o meu trabalho do que o que está escrito nos documentos".
Eu sempre tive muito interêsse e muito fascínio pelos inventores. E não me refiro só aos compositores clássicos,não. Falo também de cantores, que inventam estilos, como a Billie Holiday, o Chet Baker, o João Gilberto ; de instrumentistas como o Baden, o Miles Davis, o Thelonious Monk. A invenção do piano e da composição do Tom sempre me interessou muito mais do que a erudição de muitos compositores considerados "mais sérios". A maneira de orquestrar do Gil Evans, por exemplo, revolucionou a história do jazz assim como o "Prélude à l'après-midi d'un faune" transformou a história da música para sempre. Gosto muito mais do "Porgy and Bess" de Gershwin do que de muitas óperas mais "importantes".


Kate: E a World Music?


Edu: Eu acho isso uma enorme sacanagem com a música brasileira, colocá-la em uma gaveta escrita World music. Então é assim: Jazz,Rock, Pop,Rap etc. World music. E aí tem tudo: Tailândia, Grecia, Bulgária, Nigéria, Brasil, está tudo misturado ali. Acho que a gente já tem história e gabarito para ter uma gaveta, talvez pequena, mas própria, escrita assim: Brazilian music.


Kate: Mas esse é justamente um dos grandes problemas que você encontra na música, porque tudo é rotulado: Rock n' roll, Rhythm 'n' blues, Easy listening... E se a música não couber em uma dessas categorias, não se sabe o que fazer, não se sabe como é que se vai vender isso.


Edu: Lógico. Me aconteceu uma história exatamente como essa. Quando eu estava em Los Angeles, recebi uma proposta de uma nova gravadora que ia começar no mercado. Eu tinha um agente, que me levou até eles e eu gravei um demo com quatro músicas. Depois me chamaram para uma reunião com o David Grusin, que produziu o demo, e o executivo da gravadora, depois de estar ciente que não se tratava de bossa-nova, pediu a mim e ao Dave que inventássemos um nome, um rótulo qualquer para que êle pudesse vender esse demo, porque um produto sem nome não se consegue vender. E aí não teve nome, nem disco, nem nada.