segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PARTE XIV: PROFISSÃO - COMPOSITOR

Santuza: Eu queria saber também de você como intérprete. Porque você toca, você canta, você compõe...


Edu:. É uma das coisas que eu faço, mas eu sou fundamentalmente um compositor, eu sempre fiz questão de dizer isso. Arranjar, orquestrar, tocar violão, tocar piano, são ramificações do meu trabalho. Agora, se eu tiver que abrir mão de tudo, eu vou continuar fazendo música. Aliás, eu passei uns dez anos sem fazer show nenhum quando eu cheguei dos Estados Unidos, porque eu queria realmente concentrar a minha vida nisso e tentar descobrir se no Brasil existe essa profissão. E eu ainda tenho minhas dúvidas.


Santuza: Você poderia falar sobre o seu trabalho atual?


Edu: No momento, eu estou compondo uma trilha para o filme do Miguel Farias, o Xangô de Baker Street, que é uma adaptação para cinema do livro do Jô [Soares]. Eu fiz os temas que vão servir para as filmagens e agora é que vem a trilha propriamente dita, escrita em cima, literalmente, da montagem final.


Juliana: Você se baseia nas personagens para fazer a trilha do filme ou você pega só o argumento do filme?


Edu: Depende do filme. Canudos, por exemplo: você tem o Conselheiro, personagens fortes... Esse eu não sei, porque é uma comédia, e na verdade eu nunca fiz uma comédia, vai ser a primeira vez. É uma comédia, mas tem uma coisa interessante, porque tem um violino que acompanha a trama toda. Então vai ser engraçado escrever para violino solo. E foi muito bom para mim, porque história se passa no final do século passado. Então eu comecei a ouvir muito [Ernesto] Nazaré, Chiquinha Gonzaga... Eu quero fazer uma música que tenha esse espírito de final de século passado, mas cheia das harmonias de agora. Eu não tenho o menor problema com isso, porque não é um documentário; se é ficção, a gente pode inventar o que quiser. Mas também não é escrever uma música contemporânea que vá brigar com a época. Então isso é que está me interessando muito mesmo, fazer essas valsas, esses tangos, essas polcas da época.


Santuza: Você já fez muita trilha para cinema?


Edu: Para cinema, alguma coisa. Mas a dificuldade de trilha para cinema até esses últimos anos - é um problema sempre muito grande - é que a verba costuma acabar exatamente na hora em que a trilha vai começar. Então isso afeta a coisa toda técnica de melhores estúdios, número maior de músicos e mixagem e tal... Eu tive alguns desgostos com isso, alguns grandes até, assim de não querer mais ver o filme. Se você destrói a qualidade do som, a música é a primeira que sofre. Os atores sofrem também, porque altera a qualidade do diálogo, você perde a emoção . Agora, eu acho que no Cinema Novo houve uma espécie de estética em que era quase obrigatório fazer algumas coisas de uma maneira pobre.


Juliana: Você chegou a fazer trilha para o Cinema Novo?


Edu: Na época do Cinema Novo não. Só depois, nos anos 70. Quando eu cheguei dos Estados Unidos é que eu fiz trilhas para o cinema.