Elis e Edu

Ao apresentá-la em cena, Guarnieri era acompanhado por um trio de flauta (Neném), violão (Carlos Castilho) e percussão (Anunciação), já tendo a canção na ocasião a famosa introdução, com o acorde de quinta diminuta sob a quarta nota, que funcionava como um chamamento para o refrão: “Upa negrinho na estrada / upa pra lá e pra cá / virge que coisa mais linda / upa negrinho começando a andar...”
Mas, não existiam os breques com percussão, que seriam criados por Elis nos versos “capoeira / posso ensinar / ziquizira / posso tirar / valentia / posso emprestar / mas liberdade só posso esperar...” Elis também acentuou com palmas e sem vocal a quarta repetição da frase da introdução, que entoava “pa-ta-ta-trii-trii-triipa-ta-ta...“, fechando sua interpretação com um ardoroso final, que não existia na peça. Pode-se assim dizer que a cantora reinventou a música, ao adaptá-la ao seu próprio estilo. Isso ocorreu com mais duas canções da peça, também incorporadas ao seu repertório: “A Mão Livre do Negro”, que virou “Estatuinha” e “Zambi no Açoite”, transformada em “Zambi”.
Cantado em público por Elis pela primeira vez na noite da gravação ao vivo de “O Fino da Bossa”, pelo então técnico de som Zuza Homem de Mello (para disco Dois na bossa n°2), “Upa Neguinho” foi recebido entusiasticamente pela platéia, O sucesso desse elepê abafou o do disco de estréia de Elis na Philips (Samba eu Canto assim), motivando prognósticos desfavoráveis ao seu futuro como cantora de estúdio que, como se sabe, não se confirmaram.
“Upa Neguinho” tornou-se número obrigatório nos espetáculos de Elis Regina, que o cantou, inclusive, no Midem e no Olympia de Paris, por ocasião de sua primeira turnê internacional. Regravou-o ainda várias vezes, a última das quais no Festival de Montreaux, em 1979. Tão forte tornou-se a integração Elis/”Upa Neguinho” que raramente outros cantores se atrevem a gravá-lo
Fonte: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.