MARIA APARECIDA PEPPE
A instalação do regime militar a partir de abril de 1964, que derrubou o governo reformista de João Goulart, inaugurando um longo período de repressão, trouxe novos
questionamentos para as esquerdas e para os nacionalistas que, até então, identificavam-se com a idéia do “avanço” histórico do país em direção à revolução burguesa capitalista e às reformas de base que consolidariam uma nova etapa histórica nacional. A rápida queda do governo Goulart, sem grandes resistências, gerou uma necessidade premente para os artistas e intelectuais: repensar o seu papel frente à questão da consciência política na luta pela transformação social. Apesar de dissolver as organizações populares, perseguir parlamentares, líderes políticos e sindicalistas, o novo governo permitiu uma relativa liberdade de criação e expressão entre os artistas e intelectuais, ainda que sob a vigilância autoritária, entre 1964 e 1968.
Artistas e intelectuais, isolados politicamente das classes populares, tiveram suas vozes ouvidas apenas entre a classe média consumidora de cultura, o que, por um lado, deixou de oferecer perigo maior e, por outro, acabou por criar uma certa autonomia que permitiu um grande debate intelectual na busca de novas perspectivas culturais e políticas para entender a recente conjuntura nacional, inserindo nesse contexto, o problema da criação artística engajada. A nova conjuntura transformava a consciência social em prioridade na luta contra o regime, tornando a cultura um dos únicos espaços de atuação da esquerda, agora como instrumento de resistência. Para a canção brasileira engajada, o isolamento com as camadas populares impunha um desafio: encontrar uma nova forma de chegar ao “povo”, o receptor das mensagens conscientizadoras, iniciando assim, um debate sobre os procedimentos de criação e recepção dessa arte. Dessa forma, os shows do circuito universitário, patrocinados por entidades estudantis, e sindicatos, aliados ao debate sobre a inserção na indústria cultural, tornaram-se a via de interação entre o artista e seu novo público,aprofundando a síntese entre a bossa-nova “nacionalista” e a tradição do samba, já iniciada antes de 1964.
Pesquisa completa no link: http://www.anpuh.uepg.br/Xxiii-simposio/anais/textos/MARIA%20APARECIDA%20PEPPE.pdf