sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

UM ARRASTÃO NA MPB

Em 1960 foi realizado o primeiro festival considerado de música popular brasileira. Batizada de A Mais Bela Canção de Amor, a disputa foi realizada por Abrahão Medina e realizada na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Canção em tom maior, de Ari Barroso, ficou em primeiro lugar. Em segundo ficou a música Ternura antiga, de Dolores Duran e Ribamar, interpretada por Ellen de Lima.

Três anos mais tarde, a história dos festivais deu mais um passo com a realização de Uma Canção Por Um Milhão. No ano seguinte, o primeiro festival pós-golpe, já inflacionado, passou a se chamar Dez Milhões Por Uma Canção. Ellen de Lima era intérprete da canção vencedora, A lei do mais fraco, parceria de Jaconina e Murilo Latim. Esses primeiros festivais, no entanto, eram musicalmente fracos, por isso não tiveram muita repercussão e serviram como uma espécie de esboço para os festivais que vieram a ser realizados.

Em 1965, a TV Excelsior realizou o I Festival de Música Popular Brasileira, dando o pontapé inicial para a nova era nos festivais da canção. Deste saiu o primeiro grande fenômeno dos festivais: Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Morais, interpretada por Elis Regina. A música não apenas levou o primeiro lugar e uma gorda premiação em dinheiro, como caiu na boca do povo, foi consagrada e pulou para os primeiros lugares nas paradas de sucesso e nas listas de vendagem de discos.

Mais ainda: Arrastão ganhou mais de 50 regravações, virou tema de filme e sua intérprete, Ellis Regina, na época com 21 anos, passou a figurar entre os grandes nomes da MPB. Fenômeno tão grande fez passar desapercebido o samba Sonho de Carnaval, do então anônimo Chico Buarque de Holanda. Classificada entre as 12 finalistas, a música foi defendida pelo também desconhecido Geraldo Vandré. Não é exagero dizer que a realização dos festivais seguintes e a sua qualidade foram conseqüência da performance que a música de Edu Lobo e Vinícius de Morais obteve na mídia. Sua fantástica repercussão atentou para o potencial dos festivais.

Para o autor de Arrastão, Edu Lobo, toda essa mídia e mesmo a existência dos festivais eram impulsionados pela televisão. “Os festivais eram mais programas de televisão do que qualquer outra coisa. Naquela época existiam muitos programas de músicas na televisão. Mas apesar de tudo os festivais eram positivos porque a TV era uma grande vitrine; foi legal pra todo mundo como exposição”, conta Edu, que considera Ponteio, vitoriosa dois anos depois, e não arrastão, como um marco na sua carreira.

Deste mesmo festival, outras duas canções merecem destaque. Preciso aprender a ser só, de Marcos e Sérgio Vale – um dos maiores sucessos de vendagem daquele ano e vencedor do prêmio JB de melhor música -, e Saveiros, de Dori Caymmi e Nélson Motta – vencedor da parte nacional do I Festival Internacional da Canção (FIC), em 66. O detalhe é que as duas sequer foram classificadas entre as 12 finalistas do festival da Excelsior e, já aí, começavam as polêmicas em torno da capacidade do júri e da interferência de interesses externos nas decisões dos festivais.

A própria Arrastão comprova esta duvidosa capacidade do júri, uma vez que a música que veio a ser a grande vencedora do festival fora anteriormente preterida pela banca selecionadora, ficando em seu lugar Aleluia, outra composição de Edu Lobo. Foi o próprio Edu quem pediu pela troca, considerando que Arrastão era mais forte para participar de um festival. Surgiu daí também a idéia de “música de festival”, uma classificação pejorativa para as composições mais preocupadas em empolgar o público logo de início do que com a qualidade musical.

Edu Lobo critica os critérios do julgamento dos festivais. “Várias músicas fantásticas não ganharam festivais. Uma balada dificilmente ganharia um festival concorrendo com um baião, por exemplo, que tem uma estrutura rítmica muito mais complexa. E como é que se compara um choro com um baião pra dizer qual é o melhor?”, questiona.

Fonte: http://www.festivaisdobrasil.com.br/Historias%20e%20%20textos/historiadosfestivais_parte02.htm