sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

ENTREVISTA À REVISTA ÉPOCA


Aos 61 anos, o músico diz que nunca teve tanto prazer em fazer shows e mostra sua plenitude no palco com apresentações no Brasil e no exterior



ÉPOCA: Como está sendo sua volta aos palcos?

Edu Lobo: Hoje em dia para mim é muito bom fazer show, eu gosto. Tenho agora um repertório que me interessa mostrar, de todas as épocas, eu me sinto bem, por isso estou fazendo. Quando estou no palco, aproveito. Estou pleno.

ÉPOCA: Nesta temporada de shows você está demonstrando grande prazer de estar no palco, não?

Edu Lobo: O palco já foi uma coisa que eu não gostava, que incomodava, atrapalhava a vida, a coisa de compor. Hoje em dia é bem natural.

ÉPOCA: Você fez shows em São Paulo, no Rio (que volta agora) e também na Europa, como tem sido?

Edu Lobo: Ótimo! Passei por Recife, Porto Alegre, vários lugares. Palcos diferentes, tamanhos diferentes. Acabei de chegar de Lisboa, fiz um show em um lugar enorme, um teatro do Centro Cultural Belém, foi muito bonito lá, bonito de verdade. O teatro tem 1200 lugares, é lindo, supernovo, superbacana. Foi muito bom fazer. Hoje em dia faço show com prazer, me divirto. Sinto prazer, é engraçado.

ÉPOCA: No final do seu show em Portugal você foi aplaudido por mais de dez minutos no teatro. Como foi isso?

Edu Lobo: Gosto muito de teatro. Acho um lugar maravilhoso para fazer show. Porque as pessoas vão lá para isso. Não posso nem falar do silêncio, porque o público tem sido tão respeitoso com este espetáculo. Não tive problema nenhum. As pessoas tomam uísque, mas se você reparar no show não tem barulho de gelo, o que é uma coisa muito boa para quem está ali em cima. Porque às vezes atrapalha, dispersa, você ouve alguém sussurrando, se desconcentra, mas o público tem sido maravilhoso. Se as pessoas te respeitam, ficam quietas, você pode mostrar o que quer, da melhor maneira. Mas tem sido bom em qualquer lugar.

ÉPOCA: Você aumentou o show para esta nova temporada, não?

Edu Lobo: Sim, de dezesseis músicas cresceu para dezenove, fora o bônus... Eu gosto muito quando alguém reclama que o show está curto. Pior seria se falassem que está longo. A sensação de coisa pequena eu nunca esqueci, quando vi o Poderoso Chefão I, daí quando tem o dois você vai correndo assistir. Filme chato depois de meia hora você acha que já passaram sete...

ÉPOCA: Você costuma ficar nervoso antes dos shows?

Edu Lobo: Fico o suficiente para começar a fazer. Não ficar nada nervoso não é bom. Uma adrenalina faz bem. Quando entro no palco começa a melhorar. O único jeito de resolver o problema é entrando. A reação do público determina tudo. Perceber que estão acompanhando, pedindo coisas, isso é muito bom.

ÉPOCA: Você parece gostar muito de estar em casa...

Edu Lobo: Na minha vida, eu sempre priorizei a composição, sou um compositor. Quando tenho projetos seguidos, grudados, por questão de falta de tempo mesmo, eu não faço nada no palco, não é que não seja importante. Mas existem prioridades quando você faz muitas coisas. Quando aparecem uns trabalhos grandes, de encomenda, vou ficando em casa mesmo, compondo.Eu não sei muito misturar essas coisas, quando estou em casa estou em casa. Faço força para permanecer compondo, é o que eu mais gosto de fazer, e acho também que é o melhor que posso entregar para as pessoas.

ÉPOCA: Você vai assistir shows de amigos?

Edu Lobo: Saio de casa muito raramente. Apenas para jantar, encontrar amigos, sou mais caseiro. Não sou muito de festa.

ÉPOCA: Que tipo de música você ouve?

Edu Lobo: Ouço tudo que chega às minhas mãos, que vou descobrindo nas lojas. Muito jazz, música brasileira, clássico.

ÉPOCA: Você sempre fala que admira os inventores de música, os compositores que criam uma marca. Há uma nova safra desses músicos?

Edu Lobo: Eu tenho problemas com essa coisa de citação, porque toda vez que cito, acabo esquecendo alguém. Mas com certeza há muitos inventores de música popular brasileira em todas as épocas, desde de gerações de mais de 30 anos do que eu, passando pela minha, indo para as novas gerações. Essas pessoas são as que me interessam mais: as que inventam, que tem um som, uma personalidade e uma assinatura. Você ouve uma música do Gershwin e sabe que é dele. Do Tom a mesma coisa. Tem essas marcas que são muito profundas e muito interessantes mesmo. Acho que foi isso que eu procurei a vida inteira para mim. Pessoas que criam, que inventam. Gente que você olha a música e diz: essa música só pode ser deste compositor. E isso não tem nada a ver com talento comercial. É um tipo de composição que perdura, que fica para sempre. São pessoas raras na música. De maneira geral, não é só popular não, música clássica, jazz. Em todos os gêneros têm os seus inventores.

ÉPOCA: Você já declarou que gosta de trabalhar sob pressão, é isso mesmo?

Edu Lobo: Se não tiver a data para entregar, a gente não entrega. Mas quando dão o prazo, ele nunca é curto. Não existe prazo curto. Quando você se interessa, passa viver o dia inteiro pensando nisso.

ÉPOCA: O que te inspira?

Edu Lobo: Vejo essa questão de forma menos mística, menos misteriosa. Aquela coisa de estar dirigindo e, de repente, vir uma melodia na cabeça, isso nunca aconteceu comigo. Deve ser uma maravilha, sei que existe, não existe para mim. Minha inspiração é me concentrar, procurar pensar em alguma coisa.

ÉPOCA: Você tem novas composições no momento?
Edu Lobo: Não, tenho coisas que sobraram que estão sem letra...Cantando a música se percebe para que parceiro pode ir a letra. A música é que manda, ela que diz.

ÉPOCA: Tem algum novo parceiro em vista?

Edu Lobo: No momento, não. Os parceiros que tenho trabalhado são mais ou menos os mesmos. Não é impossível surgir um parceiro novo, mas não tenho nenhuma idéia disso.

ÉPOCA: É mais difícil para os músicos de agora fazer sucesso do que foi para a sua geração?

Edu Lobo: Bem mais difícil. A conversa entre artistas e a gravadora hoje em dia é mais complicada do que, por exemplo, nos anos 60. Entrar numa gravadora era uma coisa quase que natural, as pessoas já tinham ouvido falar de você, das suas músicas, não precisava fazer um plano de marketing para ver quantos discos que iam vender. Não era feito produto. Quando eu comecei vi todo mundo chegando, de vários lugares.Pessoas muito boas eram imediatamente contratadas. Hoje em dia não é mais assim. Você pode ser muito bom e não ter uma gravadora atrás de você. Acontece muito, quase todas as vezes. É preciso alguém que descubra um ponto comercial. Tem vários selos fazendo isso na medida do possível. Os selos cuidam muito mais dos discos do que as grandes gravadoras, isso eu tenho percebido.

ÉPOCA: A sua geração de músicos está bem, todos brilhando, saudáveis, não acha?

Edu Lobo: Mais ou menos, né? (risos). Quando eu tinha 20 anos e alguém ia fazer 40 me dava uma certa pena. Coitado está fazendo 40 anos... Cinqüenta era já meio punk, sessenta, então, já foi. Essa relação está diferente, ainda bem... As coisas mudaram, as pessoas mudaram de comportamento em relação a muitas coisas. Pessoas de sessenta anos saem de casa, vão correr na esteira, fazem exercício, cuidam da saúde. Acho que é por isso. E música também faz bem à saúde.

ÉPOCA: Que esporte você faz?

Edu Lobo: Corro na esteira, numa academia com ar condicionado. Apesar de ser chato, eu prefiro porque não lesiona o joelho, dá para controlar a velocidade, a pulsação. Faço isso de quatro a cinco vezes por semana, me faz bem.

ÉPOCA: O que te dá prazer hoje na vida?

Edu Lobo: Além de ouvir música? Adoro cinema (prefiro ver em casa do que nas salas), gosto muito de jantar fora e viajar. Fora do Brasil é muito bom, mas por aqui também.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG69232-5856,00.html