domingo, 23 de março de 2008

EDU LOBO CONTA SUA HISTÓRIA

Documentário radiografa carreira do compositor e traz show como bônus

Recluso, Edu Lobo não é dos artistas mais fáceis de ver em exposição. São raras suas entrevistas e - ainda mais - apresentações. O documentário Vento bravo, dirigido por Regina Zappa e Beatriz Thielmann e lançado pela Biscoito Fino, vem preencher essa lacuna.

Com as diretoras o público entra no reduto do artista e traz o próprio compositor contando sua história. Desde a infância, quando visitava a família no Recife, passando por seus primeiros encontros com a turma da bossa nova. Retrata momentos importantes como os bastidores dos festivais e o início de seu relacionamento com a bossa nova.

Como todo documentário, esse é povoado de depoimentos. Chico Buarque está à vontade ao lado do amigo entre papo e músicas. Joyce lembra a parceria deles e garante: "Edu Lobo poderia ser um mega-star". Passam outros amigos e artistas e, até mesmo, a sumida Marilia Medalha fala sobre o sucesso de Ponteio. Corta para a histórica noite do festival. O público grita "Edu" quando as músicas vencedoras estão para ser anunciadas. Não deu outra.

Mas o momento mais emocionando é a visita que Edu faz ao parceiro Gianfrancesco Guarnieri. "Vamos botar a conversa em dia?", propõe Edu dando um beijo fraternal no autor, parceiro dele na peça Arena contra Zumbi, de 1964. É, provavelmente, a última imagem de Gianfrancesco. Debilitado pela doença, pouco fala. Mas se mostra feliz e lembra as músicas ao lado de Edu Lobo.

Em um sarau familiar, o filho Bena Lobo declara: "Eu queria ser ele, tudo que eu fazia no palco eu pensava nele. Até conseguir me desvencilhar dessa sombra e encontrar o meu jeito de fazer música demorou um tempo", confessa.

Maria Bethânia resume a marca musical de Edu: "Ouço e digo logo: é Edu. Ele tem sofisticação e apuro musical", declara. "Quando é que vão aprender que nós não somos bobos?", pergunta Bethânia em depoimento costurado ao de jovens alunos de música que enaltecem Edu e sua geração de compositores. "Nem burros, nem insensíveis", dispara a cantora. "Nós queremos Bethoveen, nós queremos Edu, nós queremos ballet", protesta.

Quem também se destaca é o jornalista e pesquisador musical Tárik de Souza. Frente a um boquiaberto Edu Lobo, Tárik mostra para ele a divertida Pare, olhe, escute...e goste!, segundo o jornalista única gravação em que o compositor Fernando Lobo, pai de Edu, aparece cantando. Surpreso, Edu se diverte com a descoberta. As câmeras captam bem sua expressão de surpresa. "Ele nunca me mostrou isso", espanta-se. "Não sei se ele esqueceu ou se preferiu esquecer por alguma razão", brinca.

Edu Lobo não é artista de palco. Sua arte é criada em ambiente restrito. Até por isso o registro do DVD é valorizado com um trecho de uma de suas raras apresentações no Rio. O local do registro não é o ideal mas fica valendo as imagens de uma noite no desativado Mistura Fina. No pequeno palco da histórica casa Edu Lobo lembra seus maiores sucessos. A edição faz milagre e, com muitos closes, registra o show de Edu Lobo acompanhado por uma banda formada por Rafael Barata (bateria), Jorge Helder (baixo) e Cristóvão Bastos (arranjos e piano).

O (saudável) recente hábito de documentar em vídeos a carreira dos artistas brasileiros é um grande passo na formação de um catálogo com a história da música brasileira. Especialmente em se falando de Edu Lobo, compositor de qualidade inegável mas que não se expõe como seus colegas de talento. Vento bravo vem preencher essa lacuna e registrar essa história.

(De Beto Feitosa para ZiriGuidum)