sábado, 9 de fevereiro de 2008

FESTIVAL DE 1967: CONCORRENTES RELEMBRAM FATOS MARCANTES


RIO - "Quem inovou nossa música foi João Gilberto e Antonio Carlos Jobim. Este festival é igual ao do ano passado". Hoje, os comentários de Elis Regina no dia da final do 3º Festival da MPB revelam mais que um enorme erro de avaliação. Ficam evidentes as tensões que a música brasileira vivia naquele ano de 1967.

A cantora era talvez a maior representante da nascente tradição da MPB contra os "invasores" do iê-iê-iê. Em julho, Elis esteve na linha de frente da chamada "passeata contra a guitarra elétrica". Seu programa "O fino da bossa" havia saído do ar pouco antes, e ela estava preocupada em "reconquistar o público", como escreviam os jornais da época. Por essas e outras, não dava o braço a torcer para a força elétrica de Gil, Caetano e Mutantes. E, no pacote, fechava os olhos para Martinho, "Ponteio", "Roda viva"...

O mutante Sérgio Dias, que estava no olho do furacão, lembra com bom humor que havia uma divisão entre os artistas "do lado esquerdo do palco" e os outros:

- Edu Lobo era da turma que ficava do lado esquerdo do palco. Mas eu só fui me dar conta dessa separação muito depois. Na época, estava curioso com tudo, sentia-me o garoto que achou o cupom para a Fantástica Fábrica de Chocolate. Quando ouvi "Ponteio", caí de costas e fui lá falar com Edu, queria aprender a música. Ele deve ter estranhado aquele cabeludo de guitarra na mão.

Edu deve mesmo ter estranhado. Em entrevistas da época, o compositor fazia afirmações como "a guitarra não combina com a música brasileira" e "'Alegria, alegria' perdeu com a inclusão do instrumento".



Matéria de Artur Xexéo, João Pimentel e Leonardo Lichote para O Globo (2007)