de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal

Direção de Augusto Boal
Músicas de Edu Lobo
Letras de Guarnieri
Letras Adicionais de Augusto Boal e Vinicius de Moraes
Estreada em Maio de 1965 no Teatro de Arena de São Paulo
Ficha Técnica:
Produção: Aloysio de Oliveira
Capa: Detalhe de um quadro de carlos Scliar
Ilustrações e Lay-Out : Glauco Rodrigues
Arranjos e Regência: Guerra-Peixe
1. ZAMBI NO AÇOITE (Edu Lobo - G. Guarnieri)
2. É O BANZO IRMÃO (Edu Lobo - G. Guarnieri)
3. EMBOLADA DAS DÁDIVAS DA NATUREZA (Edu Lobo - G. Guarnieri - Boal)
4. ESTATUINHA (Edu Lobo - G. Guarnieri)
5. AVE MARIA (Edu Lobo)
6. PRA VOCÊ QUE CHORA (Edu Lobo - G. Guarnieri)
7. UPA, NEGUINHO (Edu Lobo - G. Guarnieri)
8. SINHERÊ (VENHA SER FELIZ) (Edu Lobo - G. Guarnieri)
9. DANDARA (Edu Lobo)
10. O AÇOITE BATEU (Edu Lobo - G. Guarnieri)
11. É UM TEMPO DE GUERRA (Edu Lobo - G. Guarnieri - Boal)
12. MORTE DE ZAMBI (Edu Lobo - G. Guarnieri)
Texto de Dias Gomes para o LP:
"O teatro brasileiro dá uma prova de vitalidade ao buscar novos caminhos , ao promover novas formas de espetáculo. E nessa busca não hesita em incorporar à moderna música brasileira seus valores mais legítimos numa aventura comum . Não fosse esse saudável espírito de pesquisa e não teríamos" Arena Conta Zumbi". Não faríamos sobretudo algumas das mais belas páginas do nosso cancioneiro popular e a reafirmação do talento de Edu Lobo , então apenas o garoto do "Arrastão".
Na peça de Guarnieri e Boal canta-se a liberdade. Canta-se a liberdade sonhada pelos negros da República dos Palmares, sonhada por tantos, ainda hoje, negros e broncos de tantos Palmares. Há momentos em que o texto atinge uma beleza poética inegável, como na cena em que Zambi explica ao seu povo o que é ser livre e nos versos da canção que se segue " A mão livre do Negro". Mas neste ditirambo juvenil à liberdade, a voz que sobressai é a de Edu Lobo. Suas canções pegam o espectador e o conduzem para onde querem sem raciocinar, narcotizada por uma perfeita identificação melódica e rítmica tirando-lhe mesmo toda a capacidade de julgamento dos fatos narrados no palco. E se isto é mau para o teatro de concepção brechtiana é ótimo para música popular brasileira e para Edu particularmente.
Foi essa sua pequena "traição" aos autores da peça ( "traição" cometida por excesso de talento) que fez de "Zumbi" um bonito espetáculo e enriqueceu nosso cancioneiro popular com páginas admiráveis como "Zumbi no Açoite", "Upa Neguinho", "Tempo de Guerra". Bendita traição.
Texto de Esther Scliar:
Há duas concepções em relação à música de teatro . A primeira considera a música como elemento decorativo e em última análise, um veículo capaz de tornar o espetáculo mais vivo e acessível. A segunda corrente, acredita na possibilidade da música contribuir com sua linguagem para intensificar o conteúdo expressivo da peça.
Quando assisti "Arena Conta Zumbi" senti que a música poderia desviar minha atenção do espetáculo , tal o meu fascínio. Surpreendeu-me o fato de que um jovem autodidata usasse o contraponto, inclusive um cânone, como se já estivesse familiarizado co estas técnicas pelo estudo.
Não que houvesse a preocupação de artifícios, pois a linguagem era simples e fluente.
Apesar disto não me distraí do espetáculo, pois Edu, servindo-se das constancies afro-brasileiras, explorou seus contrastes e obstinatos, dinamizando-os não sòmente em função da marcação coreográfica como também em relação aos propósitos da mensagem.
Fonte: www.edulobo.com.br